O ranger ou apertar de dentes durante o sono é uma desordem que aflige milhões de pessoas no mundo. Para se ter uma ideia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema atinge 40% da população, só no Brasil, segundo dados oficiais.
As lesões dentárias que esse hábito pode trazer variam, desde casos mais brandos, até mais complexos. Isso porque o ranger de dentes é cerca de 40 vezes mais potente do que a mastigação.
Dessa forma, entender o que é bruxismo faz muita diferença na hora de buscar o tratamento correto. A maioria dos pacientes demora a identificar o hábito de ranger os dentes, especialmente quando não faz visitas frequentes ao cirurgião-dentista.
O mais importante, nesse caso, é entender como essa mania ou hábito parafuncional (sem função específica natural) atua e identificar os primeiros sinais para iniciar o tratamento de forma segura e rápida. Assim, fica mais simples evitar desgastes nos dentes e cuidar da saúde de maneira geral.
Quer saber mais? Vamos tirar todas as suas dúvidas sobre bruxismo e como tratá-lo corretamente. Acompanhe abaixo.
1. O que é bruxismo?
Bruxismo é uma atividade da musculatura mastigatória caracterizada por apertar ou ranger os dentes, ou manter os músculos da face contraídos na mesma posição. Essa disfunção pode estar ligada às situações de estresse, ansiedade e tensão, cuja origem se dá no sistema nervoso central, e até a fatores genéticos e de formações ósseas, onde ocorre o fechamento inadequado da boca. O bruxismo, quando ocorre durante o dia leva o nome de briquismo, bruxismo em vigília ou apertamento desperto.
2. Diferenças entre bruxismo e briquisimo
Como mencionamos, o bruxismo em vigília ou briquismo, acontece quando estamos acordados. Ele é caracterizado pelo ato de apertamento dental, o que leva o paciente a apertar os dentes por horas, principalmente se estiver executando atividades que exijam concentração. Vamos citar alguns exemplos: você pode apertar os dentes durante a leitura, realizando uma prova do vestibular, jogando videogame, assistindo televisão, dirigindo um automóvel, dentre outras atividades. A contração da musculatura constante pode levar às dores musculares que aparecem no final do dia.
Já o bruxismo que ocorre enquanto estamos dormindo é considerado um distúrbio de movimento relacionado ao sono. Esse tipo de bruxismo é caracterizado pelo ranger de dentes e não é contínuo como o apertamento dental, pois acontece em movimentos estereotipados durante alguns minutos do sono leve.
O paciente com o sono perturbado se sente cansado na manhã seguinte e tem dificuldade em realizar suas funções cotidianas, especialmente quando envolvem memória ou concentração. Pode ocorrer limitação do movimento de abrir e fechar a boca ao acordar, sensação de dentes doloridos ou cansaço na mandíbula.
Agora, quando o quadro evolui, os dentes são prejudicados significativamente. Toda a pressão colocada no local pode levar a desgastes mais importantes e até mesmo à fratura da coroa ou da raiz do dente, em alguns casos culminando na necessidade de realizar um implante.
3. Quais as possíveis causas?
O bruxismo é frequentemente associado aos quadros de estresse e ansiedade. No entanto, suas causas exatas ainda são desconhecidas e os especialistas relatam os fatores que podem desencadear o problema, além da genética. As questões emocionais aparecem como ponto em comum na maioria dos pacientes que sofrem com esse tipo de disfunção. Alguns fatores de risco estão associados ao aparecimento do bruxismo durante o sono, como idade, fumo, consumo de bebidas alcoólicas, excesso de cafeína e uso de alguns medicamentos para síndromes depressivas e transtornos de ansiedade, além do uso de drogas ilícitas.
Os sintomas podem se agravar quando aumentam as situações de pressão e nervosismo, como ao ser demitido do emprego, sofrer uma perda na família ou enfrentar crises em relacionamentos. A pandemia do COVID-19 nos mostrou que o aumento da ansiedade, do estresse, a piora na qualidade do sono e a mudança de estilo de vida com o isolamento social tiveram impacto direto no aumento do número de casos de bruxismo.
4.Idade
Embora seja mais comum na fase adulta, as crianças também podem sofrer com o bruxismo. O quadro pode surgir entre 6 e 7 anos, mas tende a desaparecer sem nenhum tratamento durante a adolescência. Na maioria dos casos, o bruxismo infantil está relacionado aos problemas respiratórios, mas também pode estar associado às situações de estresse e ansiedade, além da má oclusão ou mordida desalinhada, problema que pode ocorrer pelo uso excessivo de chupetas e mamadeiras ou por más formações ósseas.
5.Hábitos prejudiciais
O bruxismo é classificado como primário, quando não está relacionado a nenhuma alteração ou doença pré-existente, ou secundário, relacionado a alguns tipos de medicações e/ou comorbidades.
Medicações da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina, paroxetina, venlafaxina, sertralina, escitalopram, entre outros) e comorbidades como doença de Parkinson, distúrbios respiratórios (ronco e apneia obstrutiva do sono) e refluxo gastroesofágico também podem estar relacionadas ao bruxismo secundário.
Alguns hábitos são prejudiciais e funcionam como gatilhos para o bruxismo. O consumo excessivo de substâncias estimulantes é o principal deles. Entre as principais estão cafeína, nicotina, álcool e outras drogas ilícitas.
6. Quais os sintomas?
Os sintomas mais comuns ligados ao bruxismo incluem dor de cabeça e o desgaste dos dentes. Podem acontecer também dores e zumbidos no ouvido, dor no pescoço, na mandíbula e músculos da face.
É importante saber que há pessoas com bruxismo do sono e/ou apertamento dental e que não apresentam os sintomas clássicos de dor. O fato de ter um hábito parafuncional não implica necessariamente em apresentar um quadro de dor, porém é frequente encontrar pacientes com Disfunção Temporomandibular (DTM) e que apresentam queixas de bruxismo.
A DTM é definida como um conjunto de distúrbios que envolvem os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas. Os sinais e sintomas mais frequentes estão listados a seguir:
- dores na face (região de ATMs e músculos mastigatórios);
- dores de cabeça;
- zumbido no ouvido;
- tontura e vertigem;
- ouvido tampado (plenitude auricular);
- estalos ao abrir e fechar a boca;
- limitação da abertura bucal.
Como os sintomas da DTM são comuns a várias outras patologias, você precisa ter atenção especial para identificá-los e procurar por seu dentista de confiança no momento certo. Muitas vezes, o tratamento adequado demora a ser realizado pela falta de diagnóstico, pois o paciente procura por outros especialistas, como otorrinolaringologistas e neurologistas.
7.Como é realizado o diagnóstico?
Para uma investigação mais aprofundada sobre as causas do bruxismo, é importante ter uma consulta com um especialista da área de DTM para uma melhor análise sobre os hábitos da pessoa. Por meio de questionários, diários e aplicativos, é possível identificar sinais e sintomas sugestivos de hábitos parafuncionais ativos, como o bruxismo do sono e o apertamento dental, bem como avaliar a saúde em geral e verificar possíveis fatores secundários presentes na história do paciente.
8.Como é o tratamento?
É difícil falar sobre um tratamento que cure definitivamente o bruxismo. Até o presente momento, não temos na ciência um único medicamento que simplesmente faça o hábito cessar, já que sua causa é multifatorial. Por isso, o controle do hábito se faz tão importante ao longo da vida do paciente.
O tratamento pode ser feito com o especialista em DTM, mas muitas vezes é necessário lançar mão de tratamento multidisciplinar.
Se o paciente apresentar bruxismo secundário, por exemplo, o controle destes fatores que desencadeiam o bruxismo é essencial para ter sucesso no tratamento.
A conscientização do hábito quando estamos acordados, ou seja, durante o bruxismo em vigília, se dá por meio de mecanismos cognitivos, onde devemos ter a percepção do problema e agir no sentido de solucioná-lo. Hoje em dia, por exemplo, existem aplicativos de celular que permitem esse controle, alertando de tempos e tempos para que a pessoa desencoste seus dentes.
No caso de bruxismo do sono primário é necessário o uso de dispositivos intraorais como a placa estabilizadora oclusal, além de um investimento na higiene do sono. Nesse sentido, é importante a adoção de uma série de comportamentos e rotinas, como horários fixos para se deitar e acordar, a promoção de um ambiente silencioso e com pouca luz, a restrição no uso de telas na hora de dormir e a realização de refeições mais leves no jantar. Além disso, é importante uma mudança na rotina diária visando um estilo de vida mais saudável, com a prática de exercícios regulares e uma alimentação saudável.
Atualmente a aplicação de toxina botulínica não é o tratamento de primeira escolha e deve ser indicado em casos específicos e/ou que não respondem às terapias convencionais.
9.Placas oclusais
A placa para controle do bruxismo, também chamada de placa estabilizadora oclusal, é utilizada para restabelecimento de uma oclusão ideal, que nada mais é do que o fechamento correto da boca, além de alteração na percepção periodontal, relaxamento muscular indireto e alteração cognitiva. Além de proteger os dentes evitando desgastes e fraturas, esse tipo de dispositivo também descomprime a ATM, aliviando a carga excessiva nessa região.
As placas oclusais podem ser fabricadas em materiais rígidos (de acrílico) ou macios (polipropileno muito parecidos com o silicone). O design de cada placa deve ser específico conforme as necessidades do paciente, porém as placas rígidas são as mais indicadas para os casos de bruxismo, pois são estáveis e passíveis de ajustes durante o tratamento, enquanto as placas de silicone são instáveis e podem piorar quadros de dor muscular devido à flexibilidade do material.
Apesar do uso mais frequente durante o sono, as placas também podem ser usadas durante o dia, dependendo da indicação de cada caso. Vale lembrar que a placa de bruxismo não trata sozinha o hábito e a conscientização é fundamental para promover mudanças. Assim, o paciente poderá fazer uso dos aplicativos em conjunto.
É de extrema importância realizar o acompanhamento após a instalação da placa, pois ao longo do tempo a placa pode sofrer desgastes e desadaptações, gerando problemas para a mordida. Assim, é importante o comparecimento às consultas agendadas.
10.Tempo de tratamento com a placa de bruxismo
Muitos pacientes têm dúvidas sobre o tempo necessário para o tratamento com a placa de bruxismo. Considere, aqui, que o tempo médio de confecção da placa após retirar o molde da arcada dentária com o cirurgião dentista é de uma semana. Depois da instalação da placa, pode ser necessário realizar alguns ajustes para que fique confortável.
Cada profissional, após esse período de adaptação, planeja conforme as condições do bruxismo as consultas periódicas de retorno. Dessa maneira, elas podem ser desde mensais até semestrais. Não existe um padrão que defina o tempo de tratamento de um paciente com bruxismo, tudo depende, na verdade, de vários fatores definidos em consultório.
11.Mudanças de hábitos
Além da inclusão da placa para o bruxismo na rotina do paciente, é necessário a mudança de alguns hábitos. Regularizar o sono, fazer atividade física, buscar ajuda profissional de um psicólogo para lidar com as questões estressantes e existenciais, meditar, aprender técnicas de relaxamento e ter uma vida social equilibrada são pontos muito importantes que merecem atenção durante o tratamento.
12.Artroscopia de ATM
O tratamento cirúrgico da ATM é indicado em casos mais avançados, nos quais já houve tratamento clínico sem resultado satisfatório ou quando há algum importante comprometimento da ATM devido às suas alterações anatômicas causadas ou potencializadas pela sobrecarga gerada pelos hábitos parafuncionais.
Uma das opções é a realização da Artroscopia de ATM, uma cirurgia endoscópica minimamente invasiva na qual uma câmera de vídeo é colocada dentro da articulação e assim pode-se melhorar a funcionalidade da mesma, cauterizando inflamações e derrames na cápsula articular, reposicionando o disco articular para seu adequado funcionamento.
O procedimento é indicado quando o paciente apresenta um comprometimento importante da função mastigatória e da qualidade de vida, como dores intensas na ATM, estalos, travamento da boca, impossibilidade de falar, mastigar e deglutir com conforto.
Para o cuidado com o paciente se preconiza, primeiramente, o procedimento mais conservador possível. Porém, quando o paciente não responde bem aos tratamentos clínicos convencionais, faz-se necessário abordar e tratar cirurgicamente o problema.
Agora você já sabe o que é bruxismo e como tratá-lo de maneira eficiente. O mais importante ao notar os primeiros sinais de desconforto na região é procurar por um cirurgião-dentista de confiança para obter o diagnóstico correto e, em conjunto com o profissional, identificar quais fatores desencadeiam essa condição e como tratá-la.
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